Foi uma honra e uma grande alegria receber este presente de Joaquim Pessoa,
grande poeta dos nossos dias. Venho aqui partilhá-lo convosco porque fala do meu nome, porque é poesia e porque é muito bonito...:)
Rute
Nos primeiros ouros,
sem as primeiras armadilhas,
as tuas mãos brincavam com a água,
e os leopardos e os linces engravidavam as corças
quando antigas pedras do céu
foram as primitivas pedras da terra.
O sangue dos vulcões soltou-se
arrastando o teu nome trazido
de um palácio subterrâneo e profundo,
senhora dos mais tímidos gestos de princesa: Rute.
Essa era a fala das aves. A que primeiro
tiveram as pombas e as rolas,
e a que depois o vento aprendeu a entender.
Dela nasceu a cor do rubi, a flor do tamarindo,
o odor do aloendro.
Teu é o nome que agora rumoreja entre as árvores,
som que os animais feridos retiram do silêncio,
duas sílabas de pão, de erva, de ternura.
Nome que nenhum monte tem,
que não pôde ser de nenhuma cordilheira,
desfiladeiro ou lago.
Porque há nomes que são apenas um sorriso,
justamente uma gota: Rute.
Nome que só poderia pertencer
ao vento solar
ou a uma muito longínqua luz,
e que algum deus ou algum homem
há muito, muito tempo se deveria
simplesmente ter lembrado
para baptizar
a Constelação da Virgem.
in NOMES
Joaquim Pessoa, 2001
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Espero que goste do poema, Rute.
Beijo amigo do
Joaquim Pessoa