terça-feira, 3 de maio de 2011


" EU, ÀS VEZES" ( cont.)



" Bom, voltando ao principio dizia que começava a anoitecer tão cedo, as árvores do dia que nada têm a ver com as árvores da noite, misteriosas, densas, falando, falando, a engordarem de pássaros. Janelas iluminadas e eu a imaginar as vidas atrás das cortinas, por vezes, num intervalo, um relógio, uma pagela, um lustre que me assusta, vultos. Gestos femininos bonitos sempre, a delicadeza com que as mulheres tocam nos objectos, a harmonia dos dedos: somos pesados e sem graça, nós os homens, ao pé delas. Pesados, brutos, canhestros: não possuímos seja o que for de ave ou de nuvem, a nossa carne é densa e gaguejante. Dá-me uma paz de eternidade ver uma mulher numa casa, o modo como o seu corpo habita o espaço, a forma como vestem, de si mesmas, os compartimentos, com um simples passo, um simples olhar. E depois uma espécie de inocência primordial (...)" .


Excerto da Crónica, "EU, ÀS VEZES", de Aº Lobo Antunes, in Quarto livro de Crónicas

Nota: Cont. da crónica começada ontem, dia 2 de Maio

8 comentários :

João Menéres disse...

Gosto muito do céu, RUTE !

Um beijo.

Rute disse...

João

Obrigada :))

1 beijo e uma noite descansada :)

Clarice disse...

Ler estas crónicas num "céu assim" é um dos planos para os próximos dias!

Beijo :)

Helder Ferreira disse...

E a perfeição continua... :)

Rute disse...

Helder

...de que parte? Da visual ou da escrita?!

1 beijo:)

Rute disse...

Clarice

Eu também alinho ;)

Bjhs

Remus disse...

Linda!
Até faz inveja!
Muitos parabéns!

Rute disse...

Remus

Obrigada:))

1 beijo