" EU, ÀS VEZES" ( cont.)
" Bom, voltando ao principio dizia que começava a anoitecer tão cedo, as árvores do dia que nada têm a ver com as árvores da noite, misteriosas, densas, falando, falando, a engordarem de pássaros. Janelas iluminadas e eu a imaginar as vidas atrás das cortinas, por vezes, num intervalo, um relógio, uma pagela, um lustre que me assusta, vultos. Gestos femininos bonitos sempre, a delicadeza com que as mulheres tocam nos objectos, a harmonia dos dedos: somos pesados e sem graça, nós os homens, ao pé delas. Pesados, brutos, canhestros: não possuímos seja o que for de ave ou de nuvem, a nossa carne é densa e gaguejante. Dá-me uma paz de eternidade ver uma mulher numa casa, o modo como o seu corpo habita o espaço, a forma como vestem, de si mesmas, os compartimentos, com um simples passo, um simples olhar. E depois uma espécie de inocência primordial (...)" .
Excerto da Crónica, "EU, ÀS VEZES", de Aº Lobo Antunes, in Quarto livro de Crónicas
Nota: Cont. da crónica começada ontem, dia 2 de Maio
8 comentários :
Gosto muito do céu, RUTE !
Um beijo.
João
Obrigada :))
1 beijo e uma noite descansada :)
Ler estas crónicas num "céu assim" é um dos planos para os próximos dias!
Beijo :)
E a perfeição continua... :)
Helder
...de que parte? Da visual ou da escrita?!
1 beijo:)
Clarice
Eu também alinho ;)
Bjhs
Linda!
Até faz inveja!
Muitos parabéns!
Remus
Obrigada:))
1 beijo
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