Preciso de aplacar as saudades
de quando estiveste em mim
como ferro em brasa que queimava
e era forte e intenso doloroso e profundo
prazeiroso até ao tutano, até ao cerne
ardente quente e não querias ir nunca mais
porque eu cuidava dos teus olhos translúcidos
quando choravam e do teu coração quando vacilava
comovia-me a tua ingenuidade de pássaro desarvorado
comovia-me a transparência infantil do teu olhar
enternecia-me a maneira como te aninhavas no meu corpo
e fazias dele harpa com as tuas mãos suaves de quem ama
sem pensar, sem falar, sem tréguas indesejáveis
e então eras aragem, eras odor salgado de mar
em finais de Setembro, verde e cinzento
nunca foste amante de Primavera ou Verão
sempre tiveste o cinzento do fim de época balnear
do retorno do silêncio e do desassossego
da época de Levante nas praias já desertas de gentes
e esse verde dos teus olhos, paixão da natureza pulsante
infiltrada sob a tua pele morna derramada na espuma
das ondas que vinham já sem força desaguar em mim
9 comentários :
A forma com a luz do fim de tarde projecta-se na crista das ondas, está belíssima.
Um perfeito equilíbrio entre a velocidade e a abertura.
Para falar das palavras que adornam a fotografia, só poderia falar bem, como sempre. Mas isso, a Rute já não precisa que lhe digam.
Parabéns!
Este poema incrível só é possivel porque nasce numa fonte natural e imensa...
Parabéns
Sérgio
Como sempre, uma escrita empolgante, mostrando com delicadeza, a força dos sentimentos, e acompanhada de uma lindíssima imagem, com uma fantástica iluminação, de fim de tarde.
Belíssimo post, Rute!
Não tem "Titalo"???? A poesia é tão bonita!!!
Sugestão: "Desaguar em mim"
Beijinhos. BFDS
Ana
SIMPLESMENTE FANTÁSTICO este teu poema, Rute !
Não sei se o João Villaret o saberia dizer tal como eu o li...
Um beijo com muita admiração.
gosto muito deste poema... e ilustrado com uma foto com uma luz de fim de dia espectacular!
Fantástico.
Soube-me bem vir aqui e ver este mar que parece chamar-me, que entra pela tela dentro.
Há cerca de 5 dias que estou longe dele e já lhe sinto a falta, por isso foi muito bom vir aqui.
Sobre as palavras, bom, essas têm os fascínio do costume. Parabéns!
Beijinhos Rute
Muito bom, mais uma perfeita dupla entre o texto e a foto. Bjs
Ai o mar.. nada como o mar! Gosto tanto.
Adoro a força que esta fotografia tem :)
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